Crítica: Suspiria surpreende, mas não supera a obra-prima de Argento
Visualmente, o remake consegue ser melhor que a produção original e produz cenas memoráveis que fazem valer a experiência de ir ao cinema
atualizado
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Suspiria — A dança do Medo, longa-metragem que estreia nesta quinta-feira (11/4), aplica uma pegadinha aos cinéfilos que esperam ver um remake do filme homônimo de 1977. Em comum com a obra-prima de Dario Argento — que se tornou um clássico do terror italiano e inspirou inúmeras produções sequentes —, há apenas a trama inicial.
Susie Bannion (Dakota Johnson) é uma jovem bailarina americana que é aprovada na prestigiada academia de dança Markos Tanz Company, em Berlim. A escola, porém, é apenas um pano de fundo para um coletivo de bruxas macabras, que manipulam a vida das dançarinas a seu bel-prazer.

Depois do sucesso de Me Chame Pelo Seu Nome (2017), o diretor Luca Guadagdino mostrou-se corajoso ao assumir os riscos de distanciar-se do roteiro original, trazendo novos elementos e desfechos à história. Ao contrário do que acontece no antecessor, no Suspiria 2.0 a verdadeira face das professoras é revelada ao público sem rodeios. Mas a ousadia é também o ponto fraco da nova versão.
A narrativa de Guadagdino perde ritmo ao forçar um entrelaçamento de eventos reais acontecidos na Berlim de 1977, ainda fragilizada pelos ecos da Guerra Fria e da Segunda Guerra Mundial, com o lado sobrenatural do filme. Diálogos sobre as memórias do holocausto tentam esclarecer pontas soltas e fatos como o sequestro de um avião de ageiros pela Frente Popular de Libertação da Palestina são utilizados para ambientar a plateia. Com isso, as mais de duas horas do filme correm lentamente divididas em seis atos e um epílogo.
Pontos fortes
Visualmente, o remake consegue superar a produção de Argento. A cinematografia de Sayombhu Mukdeeprom troca o colorido da obra original para explorar uma paleta de tons frios e escuros. O jogo coordenado pela direção apresenta visões interessantes e faz uma brincadeira onde os vidros e espelhos da academia criam duas realidades simultâneas. Como se a verdade estivesse escondida e o que vemos fosse pura ilusão.
Os cortes de câmeras que une, em tempo e espaço, duas situações diferentes resulta em um momento genial, visto poucas vezes nas telonas (spoiler): a dança da morte de Olga, personagem vivida por Elena Fokina. Sem trilha-sonora, com o silêncio rompido apenas pela mixagem de som que ressalta o barulho de ossos se quebrando, o assassinato da bailarina é a cena mais perturbadora e que faz valer a experiência de ir ao cinema ver Suspiria.
Dakota Johnson cresce no papel de Susie e prova que é uma atriz muito mais visceral e madura que a apresentada em 50 Tons de Cinza. Como de costume, Tilda Swinton — que mescla perfeitamente o ocultismo e força de Madame Blanc —, preenche todos os espaços vazios deixados na tela e hipnotiza os cinéfilos com expressões que dispensam palavras. O elenco todo segue a coreografia pensada pelo cineasta em sintonia.
Avaliação: Bom