Trump diz que não demitirá Powell, mas fala em “forçar” queda de juros
Donald Trump negou que tenha a intenção de demitir o atual presidente do Fed, mas criticou novamente a autoridade monetária por juros altos
atualizado
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a cobrar publicamente que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) reduza a taxa de juros no país.
Em declarações dadas durante um evento na Casa Branca, Trump negou que tenha a intenção de demitir o atual presidente do Fed, Jerome Powell, mas criticou novamente o chefe da autoridade monetária e insinuou que pressionaria pelo corte dos juros.
“As notícias falsas estão dizendo: ‘Ah, se você o demitisse, seria tão ruim, seria tão ruim…’ Eu não sei por que seria tão ruim, mas eu não vou demiti-lo”, afirmou Trump.
“Nós o chamamos de ‘Sr. Tarde Demais’, certo?”, ironizou Trump, referindo-se a Powell. “Digamos que haja inflação. Daqui a um ano, aumentem os juros. Eu não me importo, aumentem. Eu sou a favor. Eu serei o primeiro a ligar para você [Powell]. Ele vai estar atrasado para isso também”, completou.
Donald Trump completou: “Não é preciso mantê-los altos [os juros]. Talvez eu tenha que forçar algo”.
Fed se reúne na semana que vem
Em sua última reunião, nos dias 6 e 7 de maio, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.
Antes das três últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano ado – o primeiro corte em cinco anos.
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece na semana que vem, nos dias 17 e 18 de junho.
Na quarta-feira (11/6), pouco depois do anúncio dos dados de inflação nos EUA em maio, que vieram abaixo das projeções do mercado, Trump já havia cobrado a queda da taxa de juros.
Segundo o Departamento do Trabalho, o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (I, na sigla em inglês), que mede a inflação oficial no país, ficou em 2,4% em maio, na base anual, uma leve alta em relação aos 2,3% registrados em abril.
Na comparação mensal, o índice foi de 0,1%, ante 0,2% em abril.
Os resultados da inflação nos EUA vieram abaixo do esperado pelo mercado. A média das estimativas era de 2,5% (anual) e 0,2% (mensal).
Guerra entre Trump e Powell
Desde o início de seu atual mandato, Donald Trump vem pressionando publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell, a baixar os juros da economia norte-americana. No último dia 4, por meio das redes sociais, Trump chamou Powell de “atrasado”.
Na semana anterior, o presidente dos EUA havia recebido o chefe do Fed para uma reunião na Casa Branca, em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.
Em meados de abril, Donald Trump já havia subido o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrado a redução da taxa de juros no país.
“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump, na época.
Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.
“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”
A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.